"A gente não sabe o lugar certo onde colocar o desejo/
Todo beijo, todo medo, todo corpo em movimento
está cheio de inferno e céu/
Todo santo, todo canto, todo pranto,
todo manto está cheio de inferno e céu/" *
A gente não sabe mesmo onde colocar o desejo.
Ele se veste com tantas roupagens que engana ao próprio criador.
Desvenda-lo exige esforço e dor.
Quase como tirar a pele, de tão entranhado em nosso ser.
Quando finalmente podemos ver sua beleza nos assustamos.
Não fazemos a menor idéia de onde coloca-lo em nossa vida.
Muitas vezes, após essa mágica visão, corremos a vesti-lo novamente.
E escondemos dentro de uma caixa, fechada a cadeado, no fundo do armário.
Medo imenso de que nos cause tamanha ebulição, que derrube larvas sobre a vida que construímos até ali.
Pavor de que nos exija encarar a frustação ou pior, a decepção por quem nos tornamos.
Melhor que permaneça onde está, escondido de nós.
Algumas vezes, a partir do encantamento que provoca
Da sedução arrebatadora com que nos captura
Saímos feito loucos, atropelando tudo
Até o que mais amamos
Na euforia, o colocamos no topo, e ficamos escravos desse tirano senhor
Pagamos o preço de nos perder de nós mesmos.
O desejo nos instiga a percorrer nosso próprio purgatório.
Todo humano está cheio de inferno e céu...
* Caetano Veloso - trecho de música Pecado original de 1978
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