quinta-feira, 8 de abril de 2010

A gente não sabe onde colocar o desejo





"A gente não sabe o lugar certo onde colocar o desejo/
Todo beijo, todo medo, todo corpo em movimento
está cheio de inferno e céu/
Todo santo, todo canto, todo pranto,
todo manto está cheio de inferno e céu/" *





A gente não sabe mesmo onde colocar o desejo.

Ele se veste com tantas roupagens que engana ao próprio criador.

Desvenda-lo exige esforço e dor.

Quase como tirar a pele, de tão entranhado em nosso ser.

Quando finalmente podemos ver sua beleza nos assustamos.

Não fazemos a menor idéia de onde coloca-lo em nossa vida.

Muitas vezes, após essa mágica visão, corremos a vesti-lo novamente.

E escondemos dentro de uma caixa, fechada a cadeado, no fundo do armário.

Medo imenso de que nos cause tamanha ebulição, que derrube larvas sobre a vida que construímos até ali.

Pavor de que nos exija encarar a frustação ou pior, a decepção por quem nos tornamos.

Melhor que permaneça onde está, escondido de nós.

Algumas vezes, a partir do encantamento que provoca

Da sedução arrebatadora com que nos captura

Saímos feito loucos, atropelando tudo

Até o que mais amamos

Na euforia, o colocamos no topo, e ficamos escravos desse tirano senhor

Pagamos o preço de nos perder de nós mesmos.

O desejo nos instiga a percorrer nosso próprio purgatório.

Todo humano está cheio de inferno e céu...


* Caetano Veloso - trecho de música Pecado original de 1978

Nenhum comentário: